Para coroar os festejos da inauguração, organizou-se um amistoso entre a Seleção Brasileira e a do Uruguai e, pela primeira vez na história do futebol brasileiro, uma equipe de futebol, a Sociedade Esportiva Palmeiras, foi convidada para compor toda a delegação, do técnico (único estrangeiro a dirigir a seleção nacional) ao massagista, do goleiro ao ponta-esquerda, incluindo os reservas. Uma primazia única em reconhecimento à melhor equipe do País, que vencia a todos os adversários e convencia, encantava de tal maneira que recebeu da imprensa e do povo a alcunha de “Academia de Futebol”.
Quando o Brasil obteve da Fifa o direito de abrigar a Copa do Mundo de 1950, a capital mineira reivindicou uma das sedes e para abrigar as partidas a Prefeitura optou por ajudar a equipe do Sete de Setembro de Futebol e Regatas, um modesto clube de Belo Horizonte, que já havia iniciado obras para um grande estádio, projetado para 40 mil torcedores.
O cronograma das obras acabou atrasando e o projeto foi alterado para uma capacidade bem inferior. Ainda assim, o Estádio do Sete de Setembro foi inaugurado na véspera do torneio, recebendo o nome de Estádio Independência (hoje arrendado pelo América-MG).
A inauguração do Maracanã na Copa de 50 tornou ainda mais clara a necessidade de Belo Horizonte construir um estádio à altura de seu futebol e foram estudantes de engenharia da UFMG - Universidade Federal de Minas Gerais que fizeram os primeiros esboços, mas para tirar o projeto do papel foi preciso quase uma década.
Em 12 de agosto de 1959, o governador do estado, José Francisco Bias Fortes, assinou lei determinando a construção do “Estádio Minas Gerais” e, seis meses depois, em 25 de fevereiro de 1960, foi assinado acordo com a UFMG para a cessão de área de 300 mil metros quadrados, sob a forma de comodato não-aprazado, para a construção do complexo esportivo. Projetado pelos arquitetos Eduardo Mendes Guimarães Júnior e Gaspar Garreto, o estádio teria capacidade para 130 mil pessoas, uma ousadia para uma cidade que contava com pouco mais de 600 mil habitantes.
Em 1962, Magalhães Pinto venceu as eleições estaduais contra Tancredo Neves e assim que assumiu mandou paralisar as obras do estádio. Parecia que o sonho dos estudantes da UFMG voltaria à estaca zero e assim ficou por mais de um ano, até que em 1963, Minas Gerais conquistou o título de campeão brasileiro de seleções estaduais, torneio que despertava grande atenção naquela época.
A conquista ajudou a ressuscitar a idéia do estádio e, restando um ano para as eleições estaduais, o governador Magalhães Pinto retomou as obras, determinando ainda a troca do nome do estádio para “Governador Magalhães Pinto”.
O jornalista Armando Nogueira quando visitou as obras profetizou: "Isto aqui é o ponto de partida para o campeonato nacional!
Trabalharam 7.200 operários na obra que consumiu quase cinco mil toneladas de aço, 91 toneladas de arame recozido, 27 mil metros cúbicos de areia lavada, 46 mil metros cúbicos de brita, dois mil metros cúbicos de cascalho, 350 mil sacos de cimento e 810 mil tijolos e, assim, dois anos após a retomada dos trabalhos, o estádio estava pronto, com seus 88 pórticos de concreto armado, dispostos radialmente em torno de uma elipse.
A CBD somente voltou a conceder esta honra a uma equipe em duas oportunidades novamente: em vista do sucesso do Palmeiras nesta tarde, dois meses depois, em novembro do mesmo ano, a CBD tentou o mesmo recurso e convidou o Corinthians para representá-la, desta vez não contra uma seleção, mas um time, o Arsenal. Porém, o Corinthians (Seleção Brasileira) acabou perdendo a partida por 2 x 0.
Em 68, o Atlético-MG teve a última oportunidade e venceu a Iugoslávia, no Mineirão, por 3 x 2. Nunca mais houve convite oficial.
Obs.: Há ainda outras duas ocasiões erroneamente identificadas como tendo sido um clube representando a Seleção, mas na verdade não foi isso que aconteceu. Em 1968, no jogo Brasil 4 x 1 Argentina, no Maracanã, alguns dizem que o Botafogo (RJ) representou a Seleção, mas na realidade o time contou também com Félix, do Fluminense, Brito, Nado e Ney, do Vasco, e Murilo, do Flamengo. Nas Olimpíadas de 1984, em Los Angeles, alguns dizem que o Internacional (RS) representou a Seleção, mas, na realidade, contou também com Ronaldo, do Corinthians, Gilmar Popoca, do Flamengo, Chicão, da Ponte Preta, e Davi, do Santos.
O Uruguai acabava de obter a classificação para o Mundial de 66 de forma invicta e apresentava craques como Manicera (que depois desfilou sua técnica no Flamengo), Cincunegui (que faria história no Atlético-MG), além de Varela, Douksas, Esparrago...
O Palmeiras vinha de sucessivas vitórias e acumulando uma invencibilidade de 11 jogos. A equipe estava completa e em plena forma, mas na última hora o craque mais experiente, Julinho, sentiu uma contusão e chegou a pedir para o técnico Filpo Nunes deixá-lo em São Paulo.
Filpo implorou para Julinho viajar com a equipe, mas preparou Germano para substituir o grande craque. Germano era um ponteiro revelado pelo Flamengo, que foi jogar na Itália e França e havia sido repatriado pelo Palmeiras. Já no vestiário, Julinho, ao perceber a importância daquele momento, com o estádio lotado, o Palmeiras representando a Seleção, não permitiu que Filpo escalasse Germano e informou ao treinador que jogaria aquela partida nem que fosse com uma perna só.
O Palmeiras entrou em campo com Valdir Joaquim de Moraes no gol, Djalma Santos (que completaria 92 jogos pela Seleção justamente nesta partida) na lateral direita, Djalma Dias e Waldemar Carabina compondo a zaga e Ferrari na lateral esquerda (no lugar do titular Geraldo Scotto). O meio-campo com Dudu e Ademir, municiando Julinho pela direita, Rinaldo pela esquerda e Tupãzinho e Servilio no ataque. No banco, Picasso, Procópio, Santo, Zequinha, Germano, Ademar Pantera, Dario e Gildo. Uma legítima Seleção Brasileira!
Waldemar Carabina foi designado o capitão do time para esta partida. No banco, Don Filpo Nunes, o “bandoleon”, argentino de nascimento e palmeirense e paulistano por opção, tornar-se-ia naquela tarde o único treinador estrangeiro a dirigir a Seleção Brasileira. Uma honra que ele soube valorizar, respeitar e reconhecer até o fim de sua vida.
Desde o começo, a Seleção Brasileira se mostrou superior. Aos 2 minutos, Servílio, de cabeça, quase abriu o placar. Aos 6, Rinaldo avançou e chutou com força rente ao gol do Uruguai. Aos 10, Tupãzinho e Servilio fizeram linda tabela, mas foi somente aos 27 minutos que, num ataque do craque Julinho, este driblou o marcador, avançou e cruzou para a área, mas o zagueiro Cincunegui cortou o cruzamento com o braço, cometendo pênalti. Rinaldo, o batedor oficial, foi lá e fez 1 x 0 para o Brasil.
Pouco depois, aos 30 minutos, houve novo pênalti de Cincunegui, desta vez sobre Rinaldo, que entrava com tudo pela esquerda e foi derrubado, mas o juiz não assinalou. Aos 34, o mesmo Rinaldo desceu pela esquerda e cruzou rasteiro, Tupãzinho dividiu com o zagueiro e na sobra encheu o pé sem chances para Taibo, 2 x 0, e o Mineirão inteiro aplaudia e se encantava com a Academia.
No final do primeiro tempo, Ademir da Guia também foi derrubado dentro da área em novo pênalti não marcado pelo árbitro. No intervalo, o Brasil/Palmeiras fez as alterações previstas: Picasso no lugar de Valdir; Procópio no de Waldemar Carabina; Zequinha no de Dudu; Germano no de Julinho; e Ademar Pantera no de Tupãzinho.
Mesmo com cinco substituições, o time voltou tão forte quanto na primeira etapa e continuou dominando a partida e aos 18 minutos, Dario entrou no lugar de Rinaldo e, após muitas chances perdidas, aos 29 minutos, Germano marcou um golaço, para alegria da torcida brasileira.
Árbitro: Eunápio de Queiroz
Data: 07/09/65 Local: Estádio Magalhães Pinto, em Belo Horizonte (MG)
Público: aproximadamente 80.000 pagantes Renda: Cr$ 49.163.125,00
Gols: Rinaldo, aos 27, e Tupãzinho, aos 35 minutos do primeiro tempo. Germano, aos 29 da etapa final.
Fontes: http://www.gazetaesportiva.net/; http://www.palestrinos.com.br/; http://www.palmeiras.com.br/; http://www.terra.com.br/; http://www.rsssf.com/; http://www.futeboltotal.com/; www.miltonneves.com.br
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