sexta-feira, 11 de setembro de 2009

Liberdade, ainda que tardia – por Gustavo Cavalheiro

Passados mais de 50 anos da disputa do primeiro torneio sulamericano de clubes de futebol masculino organizado pela Conmebol, a mesma, acaba de lançar o primeiro torneio de clubes femininos batizado, tal qual a versão masculina, de Copa Libertadores da América.

Perdeu-se uma enorme chance de diferenciar os torneios e chamá-lo, por lógica, de Copa LibertadorAS da América. Seria uma justa homenagem às heroínas desconhecidas do grande público ao largo da História como:

Juana Azurduy (1780-1862), que perdeu cinco de seus seis filhos enquanto guerreava pela independência do Alto Peru, hoje Bolívia, dependente de Buenos Aires ao final do período colonial.

Manuela Sánez (1797-1856), nascida em Quito a chamada “amante imortal” de Bolívar (1783-1830) e coronel do exército libertador participou da batalha de Pichincha (1822).

Bartolina Sisa, (1753-1782), heroína aymara e mulher de Túpac Katarí (Julián Apaza, 1750-1781), que mobilizou 40 mil indígenas contra o poder espanhol em Alto Peru, comandou batalhões e demonstrou dotes de estrategista ao sitiar as cidades de Sorata e La Paz. Vencido o movimento, ela foi cruelmente humilhada e torturada antes de ser enforcada.

Micaela Bastidas (1745-1781), esposa de Túpac Amaru II (José Gabriel Condorcanqui, 1738-1781) e sua companheira na rebelião que encabeçou no Peru. Foram executados no mesmo dia, com a menos conhecida Tomasa Condemayta, capitã de um batalhão de mulheres que ganhou batalhas contra as forças espanholas.

Gertrudis Bocanegra, (1765-1817) tramou uma rede de insurgentes mexicanos. Capturada por espanhóis negou-se a delatá-los, apesar das torturas, e morreu fuzilada pelos realistas, como eram chamadas as forças que respondiam à metrópole européia.

Poderiam honrar Luisa Cáceres, Policarpa Salavarrieta ou tantas outras Libertadoras da América, mas em vez disso, resolveram citar somente os líderes masculinos da independência das nações sulamericanas: Simon Bolívar, José de San Martín, Antonio José de Sucre, Bernardo O’Higgin e Dom Pedro I.

Chega a ser sintomático, pois com um atraso de 5 décadas, as mulheres conseguem se igualar aos homens no esporte mais machista da América do Sul e quando é organizado o primeiro torneio de clubes feminino, eles homenageiam a “bondade masculina” em deixar as mulheres jogarem a sua bola pelos seus campos dos Andes ao Atlântico Sul, passando pelos Pampas.

Esportivamente falando, a organização clubística do futebol feminino beira o amadorismo e insipiência por essas bandas. Vide o caso deste “catadão” do Santos FC, que em detrimento às garotas que tem em seu elenco fixo, trouxe inúmeras jogadoras da seleção, tal qual fez o Cruzeiro EC para a final do mundial masculino de 1997, com o seu famoso time dos mercenários de 1 jogo.

É muito triste ver que o futebol feminino, que trouxe resultados muito mais expressivos nos últimos jogos olímpicos e panamericanos, é tratado com muito desdém e sem a devida seriedade. Deveríamos ter times realmente profissionais de futebol feminino no Brasil e nos demais países sulamericanos, com campeonatos fixos e grande exposição de mídia.

As mulheres heroínas e guerreiras deste esporte, como a melhor do mundo Marta, merecem muito mais que umas simples migalhas ou experiências “meia-bomba”. Vamos torcer para que este seja apenas um “ponta-pé inicial” que chutará pra bem longe do hemisfério, todo o preconceito e o amadorismo do futebol feminino sulamericano.

A Copa Libertadores da América de futebol feminino será disputada de 4 a 18 de outubro (apenas 2 semanas) por 10 equipes divididas em 2 grupos, com jogos dentro de seus grupos e as duas melhores equipes passam para as semifinais e posteriormente as vencedoras fazem a grande final.

Grupo 1 (Santos - Vila Belmiro) Santos FC (Brasil), Club White Star (Peru), Club Everton (Chile), Caracas FC (Venezuela) e de um clube boliviano ainda não definido.

Grupo 2 (Guarujá) San Lorenzo D´Almagro (Argentina), Universidad Autonoma de Assuncion (Paraguai), a Sociedad Deportivo Quito (Equador), Club Desportivo Formas Íntimas (Colômbia) e Rampla Jrs. FC (Uruguai).

Jogos e horários
Grupo 1 Estádio Urbano Caldeira (Vila Belmiro), em Santos

04 de outubro (domingo)
9h30 – Caracas X Everton 11h30 – Santos FC X White Star – transmissão: Bandeirantes e Santa Cecília TV

06 de outubro (terça-feira)
9h30 ou 13h00 – White Star X Everton
11h30 ou 15 horas – Santos FC X Representante da Bolívia – transmissão: Bandeirantes e Santa Cecília TV

08 de outubro (quinta-feira)
20 horas – White Star X Caracas 16 horas – Everton e Representante da Bolívia

10 de outubro (sábado) 20 horas – Representante da Bolívia X White Star
22 horas – Santos FC X Caracas – transmissão: Bandeirantes e Santa Cecília TV

13 de outubro (terça-feira) 13h30 – Caracas X Representante da Bolívia
15h30 – Santos FC X Everton – transmissão: Band Sports e Santa Cecília TV

Grupo 2 Estádio Municipal Antônio Fernandes, em Guarujá

05 de outubro (segunda-feira) 13h30 – Universidade de Assunção X Formas Íntimas
15h30 – San Lorenzo X Deportivo Quito – transmissão: Band Sports

07 de outubro (quarta-feira) 13h30 – Deportivo Quito X Formas Íntimas
15h30 – Rampla Jrs X San Lorenzo - transmissão: Band Sports
10 de outubro (sábado) 14 horas - Deportivo Quito X Universidade de Assunção
16 horas – Formas Íntimas X Rampla Jrs

12 de outubro (segunda-feira) 13h30 – Rampla Jrs X Deportivo Quito
15h30 – Universidade de Assunção X San Lorenzo - transmissão: Band Sports
14 de outubro (quarta-feira) 9 horas – Universidade de Assunção X Rampla Jrs
11 horas – San Lorenzo X Formas Intimas - transmissão: Band Sports

Semifinais Estádio Urbano Caldeira (Vila Belmiro), em Santos
16 de outubro (sexta-feira)
15 horas - 1º Grupo 1 X 2º Grupo 2 - transmissão: Bandeirantes
17 horas – 1º Grupo 2 X 2º Grupo 1 - transmissão: Band Sports

Finais Estádio Urbano Caldeira (Vila Belmiro), em Santos
18 de outubro (domingo)
9h30 – Disputa do terceiro lugar - transmissão: Band Sports
11h30 – Final - transmissão: Bandeirantes

2 comentários:

  1. Apesar dos esforços ainda é difícil conseguir assistir a uma partida inteira... mas elas chegam lá!

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  2. Grande Guz, muito boa a pesquisa feita com as libertadoras da América e também o texto e comentários.

    Sou a favor da realização de um torneio que realmente seja sério, com apoio, patrocinadores e acima de tudo com mais clubes participantes. Está na hora de largar o lado machista que predomina principalmente sobre os dirigentes brasileiros e respeitar mais as nossas atletas, que diga-se de passagem honram e muito a camisa amarelinha.

    abração,
    Rodrigo Curty

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